SEM ESTUDO E SEM TRABALHO - Brasil é o 2° país com maior proporção de jovens “nem-nem”

Relatório aponta que 36% são “inativos”. Maioria é composta por mulheres e pretos e pardos

SEM ESTUDO E SEM TRABALHO - Brasil é o 2° país com maior proporção de jovens “nem-nem”
Foto: © Antônio Cruz/Agência Brasil


Jovens que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego, os jovens “nem-nem”, essa é a realidade de 36% dos jovens brasileiros, se tornando objeto de preocupação pelos gestores do país. São mais de 7 milhões dos chamados nem-nem.

Conforme relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo país, de um total de 37 analisados, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham. O país fica atrás apenas da África do Sul.

O relatório avaliou a educação nos país membros da OCDE e alerta que essa situação deixa os jovens “particularmente em risco de distanciamento de longo prazo do mercado de trabalho”.

As causas para essa “inatividade” são diversas e variam conforme a renda familiar, principalmente entre os mais pobres que precisam parar os estudos ou deixar de trabalhar para cuidar do lar. “A situação dos jovens que não estudam, não trabalha e nem procuram trabalho tem relação com a origem socioeconômica. É comum entre os jovens de famílias mais pobres. A maioria são jovens mulheres, que tiveram que deixar de estudar e não trabalhavam para poder exercer tarefas domésticas, criar filhos ou cuidar de idosos ou outros familiares, reforçando esse valioso trabalho, que não é reconhecido como deveria. Nas famílias mais ricas, nessa condição estão jovens de faixa etária mais baixa, geralmente no momento em que estão se preparando para a faculdade”, afirma a socióloga Camila Ikuta, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O Ministério do Trabalho e Emprego aponta em diagnóstico que 17% da população brasileira são jovens de 14 a 24 anos e desses, 5,2 milhões estão desempregados, correspondendo a 55% dos desempregados no país, que, no total, chegam a 9,4 milhões.

Os dados mostram que a maioria dos jovens nem-nem são mulheres (60%) e pretos e pardos (68%), evidenciando que o fator de desigualdade e renda influencia o contexto.

“Há um conjunto de vulnerabilidades desses jovens, que não têm acesso a mais anos de estudos, não têm acesso à capacitação profissional e grande parte são mulheres, mais envolvidas nas tarefas domésticas e nos cuidados familiares. Com isso, elas liberam outra pessoa no domicílio para procurar trabalho e elas ficam responsáveis pelo trabalho não remunerado dentro do domicílio”, afirma a economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em infância e juventude, Enid Rocha. Para ela, é preciso fazer uma busca ativa desses jovens e oferecer chances de escolarização e oportunidades no mercado de trabalho, como programas de aprendizagem nas empresas.