Maioria da população brasileira se considera parda

Pela primeira vez, número de autodeclarados pardos supera o de brancos, inclusive em Itatiaiuçu, que tem 54,7% dos habitantes pardos, 35,1% brancos e 9,7% pretos

Maioria da população brasileira se considera parda


Em 2022, cerca de 92,1 milhões de brasileiros se declararam pardos, ou seja, 45,3% da população do país. Essa é a primeira vez, desde 1991, que essa parcela se tornou a maior do Brasil. Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 22 de dezembro.

No ano anterior, a parcela da população que se autodeclarou branca diminuiu, mantendo a tendência desde 2000. Entre os recenseamentos de 2010 e 2022, a população branca caiu de 47,7% para 43,5%, deixando de ser majoritária. Em contrapartida, os pardos aumentaram a participação de 43,1% para 45,3%. 

Os dados ainda mostram que a população preta saltou de 7,6% para 10,2%. Em 2022 eram 20,7 milhões de pessoas. Os dados também mostram que 1,7 milhão se identificaram como indígenas (0.8%); e 850,1 mil se classificaram como amarelas (0,4%).

O IBGE explica que o Censo 2022 colhe as respostas com base na autodeclaração dos indivíduos. Além disso, utiliza o conceito de raça como categoria socialmente construída na interação social e não como conceito biológico. As classificações do instituto são brancas, preta, parda, amarela (origem asiática) e indígena.  

Regiões

No último Censo também foi observado que a população parda predominava em 3.245 municípios do Brasil, o que equivale a 58,3% do total de municípios do país. Essa parcela tem maior representatividade na região Norte, compreendendo 67,2% da população nessa área. No Nordeste e no Centro-Oeste os números superaram a média nacional, com 59,6% e 52,4% de prevalência desse grupo, respectivamente. Já no Sul e no Sudeste a população branca é majoritária, incluindo a parte sul de Minas Gerais que existem mais municípios com população predominantemente branca.

Além disso, apenas nove municípios têm população majoritariamente preta, sendo oito na Bahia (Antônio Cardoso, Cachoeira, Conceição da Feira, Ouriçangas, Pedrão, Santo Amaro, São Francisco do Conde e São Gonçalo dos Campos) e um no Maranhão - Serrano do Maranhão, com 58,5%.  

Dados locais

Essa tendência também pode ser observada em Itatiaiuçu. De acordo com os dados, 54,7% da população itatiaiusuençe se considera parda, isso representa 7.095 pessoas. Ainda de acordo com os dados, 35,1% da população se autodeclarou branca (4.557 pessoas); 9,7% preta (1.261 pessoas); 0,3% se autodeclarou amarela (40 pessoas); e apenas 13 pessoas se autodeclararam indígenas.

Cor e sexo

Um outro dado interessante a ser observado é a relação entre cor e sexo. Os dados mostram que o Brasil tem 94,2 homens para cada 100 mulheres. Mas entre a população preta essa relação se inverte sendo 103,9 homens para cada 100 mulheres. Em relação aos pardos, o indicador é de 96,4 homens para 100 mulheres; e indígenas 91,1 homens para cada 100 mulheres. Entre brancos e amarelos o indicador é de 89,9 e 89,2, respectivamente.

Reconhecimento racial

O aumento percentual da autodeclaração de pretos e pardos pode indicar que a população brasileira está com mais orgulho em se reconhecer mais “escurecida”. Os dados mostram que a proporção de pretos mais que dobrou entre 1991 e 2022, refletindo não apenas a questão demográfica, mas também outros fenômenos sociais.

“Essas variações têm a ver com a percepção. Cor ou raça é uma percepção que as pessoas têm de si mesmas. Tem a ver com contexto socioeconômicos, contextos das relações interraciais”, afirma o pesquisador Leonardo Athias à Agência Brasil.

Essa mudança pode ser explicada pela abertura de debates públicos sobre desigualdades raciais, racismo e preconceito.

“As pessoas são discriminadas por causa da sua cor. À medida que esse debate se torna público, os sujeitos pensam ‘isso poderia ter acontecido comigo porque essa é a minha cor, esse é o meu cabelo, esse é o meu território’. Então o debate sobre racismo tem contribuído muito”, avalia Wania Sant’Anna, presidente de governança do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e integrante da Coalizão Negra por Direitos. 

Visão compartilhada com Tatiana Dias, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “A gente está tendo ao longo dessas últimas duas décadas muito mais discussão sobre a questão racial. Isso deixa de ser encarado como um tabu, e as pessoas falam sobre isso e acabam também se reconhecendo mais a partir das suas origens como negras”, diz a pesquisadora cedida ao Ministério da Igualdade Racial (MIR).