Mulheres negras recebem 52% a menos do que homens brancos

Mulheres negras  recebem 52% a menos  do que homens brancos
Marcelo Camargo/Agência Brasil


Enquanto um homem branco recebe R$ 1.320 (valor do salário-mínimo atual), uma mulher negra recebe apenas R$ 633. Ou seja, uma diferença de 52%. Quando o assunto é desigualdade salarial, o Brasil se encontra em uma posição pouco confortável. 

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que, no primeiro trimestre de 2023, a desigualdade na remuneração das mulheres negras em comparação com a de homens brancos. Os dados mostram que a remuneração média das mulheres negras era de R$ 1.948, o que equivale a 48% do salário dos homens brancos; 62% das mulheres brancas; e 80% dos homens negros. Conforme divulgado, os cálculos foram realizados pela pesquisadora Janaína Feijó.

A desigualdade salarial pode ser considerada uma das principais barreiras que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, ao lado da baixa representatividade das mulheres em cargos de liderança. 

A pesquisa mostra que 50% da distância entre a remuneração desses grupos está relacionada às características do trabalho referentes ao tipo de atividade e função que elas exercem. Ou seja, apesar do aumento do número de mulheres negras em graus elevados de escolaridade, o número ainda é baixo.

De acordo com a pesquisadora, a participação das mulheres negras que chegaram ao ensino superior e concluíram o curso dobrou, de 6% em 2012 para 12% em 2023. Mas o avanço não é suficiente para melhorar outros indicadores no mercado de trabalho. Apenas 51% das mulheres negras (14 anos ou mais) estavam ativas no mercado de trabalho, seja empregada ou buscando uma atividade remunerada. 

Além disso, o número de desemprego é alto. No primeiro trimestre de 2023, era de 13,1% contra 8,8% para o total do Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 “Entre todas as mulheres negras em idade para trabalhar, que somaram 50 milhões no primeiro trimestre de 2023, apenas 44% (22,1 milhões) estavam empregadas. Esse nível tem permanecido estável ao longo do tempo e é o menor quando comparado com os demais grupos: para as mulheres e homens não negros, esse percentual foi de 49,3% e 67,7%, respectivamente”, disse Janaína.

Assim, as mulheres negras empregadas estão, em sua maioria, em funções com remunerações mais baixas e que estão associadas à informalidade, como serviços, vendedoras e trabalhos domésticos e de limpeza. Segundo a pesquisadora, os fatores que levam a esse cenário são múltiplos, a começar por barreiras dadas por preconceitos ou falta de oportunidades para capacitação. 

Outro fator determinante é a falta de rede de apoio financeiro ou de cuidados. Levantamento anterior da pesquisadora do Ibre/FGV aponta que, entre 2012 e 2022, o número de mães solo negras saltou de 5,4 milhões para 6,9 milhões, que representa quase 90% do crescimento total observado no período. Do total de mães solo brasileiras, 72,4% vivem em domicílios monoparentais, ou seja, compostos apenas por elas e seus filhos.