ELEIÇÕES MUNICIPAIS - Com apenas dois candidatos

Na metade dos municípios a eleição majoritária será com apenas dois candidatos. Itatiaiuçu é uma das 2.748 cidades em todo o Brasil com concorrência direta

ELEIÇÕES MUNICIPAIS - Com apenas dois candidatos
Foto: Marcelo Camargo /Agência Brasil


Cerca de metade dos municípios brasileiros tem apenas dois candidatos a prefeito nas eleições deste ano. Segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 5.496 candidatos concorrem diretamente ao cargo do Executivo em 2.748 cidades, ou seja, 49% dos municípios do país. 

O percentual é o segundo maior das últimas sete eleições, ficando atrás somente do pleito de 2000, quando 2.794 cidades tiveram apenas dois candidatos. Itatiaiuçu é uma das cidades com cenário polarizado, com concorrência direta entre dois candidatos.

Nas eleições deste ano, houve uma redução de 20% no número de candidatos a prefeito, totalizando 15.415 candidaturas em todo o país.

O perfil populacional das cidades pode explicar o cenário do pleito com apenas dois candidatos a prefeito. De acordo com o levantamento, a média populacional nessas cidades é de 12,7 mil habitantes. A menos populosa é Serra da Saudade, em Minas Gerais, com 833 habitantes; e a mais populosa é Itapevi, em São Paulo, com 232.297 habitantes. 

Em números absolutos, Minas Gerais lidera o ranking, com 429 municípios nesse cenário, seguido por Rio Grande do Sul (282); São Paulo (227); e Bahia (214). 

“Se você olhar o perfil desses municípios, certamente são municípios pequenos, chamados rincões. Então isso já afunila o processo eleitoral, naturalmente. Em uma cidade desse tipo, não faz sentido ter cinco candidatos”, explica o cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa André César à Agência Brasil 61.

Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo Eduardo Grin, o desafio de governar uma cidade pequena, com poucos recursos e muita demanda da população, reduz o interesse dos candidatos à prefeitura.

“No Brasil, cidades pequenas, sobretudo aquelas com menos de 20 mil habitantes, são cidades com poucos recursos financeiros e que vem aumentando muito a responsabilidade de gastos com políticas públicas do governo federal. Então, há o receio dos prefeitos de sofrerem processos do Tribunal de Contas, do Ministério Público, ou seja, a relação custo-benefício em muitos casos não é bem vista pelos candidatos.”

Essa não é a realidade de Itatiaiuçu que, apesar de ser um município com 12.966 habitantes, está na lista dos municípios com maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil, ocupando a quarta colocação geral entre 5.570 municípios em todo o País (R$ 610.779,65 em 2021) e um dos municípios com maior arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) em todo o país.

Perfil

Ainda de acordo com o levantamento da CNM, em 72% das cidades com apenas dois candidatos, ambos são do sexo masculino. Em 26%, a disputa será entre um homem e uma mulher. E em apenas 2% duas mulheres concorrem ao cargo de prefeita.

Além disso, somente em 3% dos municípios haverá disputa entre dois candidatos que se declaram pretos ou pardos. Em quase metade, os dois concorrentes são brancos. E em 32% os candidatos se declaram brancos ou pardos.

Ou seja, os números revelam uma predominância masculina nas disputas eleitorais, com uma minoria de candidaturas femininas, seja em disputas mistas ou exclusivas entre mulheres, e que a maioria das disputas ocorre entre candidatos que se declaram brancos, enquanto uma parcela muito pequena tem candidatos pretos ou pardos.

Partidos

Em relação aos partidos, segundo a análise da CNM, cinco partidos concentram 3.256 candidaturas a prefeito, ou 59% do total de 5.496: MDB, PSD, PP, UNIÃO e REPUBLICANOS, partidos do chamado “Centrão”.

André César destaca que os partidos que mais concorrem nas eleições municipais de 2024 são partidos centrais no debate político atualmente. “O MDB, tradicionalmente, era o partido com maior capilaridade, que chegava em todos os locais do Brasil. Ele está tentando manter isso, só que está perdendo espaço para o PSD, que é um partido que está crescendo fortemente. O PT é o partido do governo federal e mantém espaço, especialmente na Região Nordeste. E o PL está aí também, com o bolsonarismo, às vezes um pouco mais extremado, às vezes nem tanto. Então é um retrato interessante; são os partidos centrais no debate político hoje, em 2024.”

Segundo Eduardo Grin, o cenário menos diversificado de candidatos pode prejudicar o debate político democrático. “Nós estamos falando de um mesmo agrupamento político, de modo que o eleitor não tem opção de ouvir uma candidatura que vá propor políticas públicas diferentes, que não seja conservador, que pense diferente à gestão pública, etc. Isso, portanto, rebaixa o debate democrático, porque reduz a possibilidade de escolha e acaba fazendo com que os eleitores, em muitos casos, votem não no candidato que eles gostariam, mas no menos pior ou naquele que eles não querem.”